SISTEMA DE ALERTA PRÉVIO

Lutas e Projetos

Constituição Rede de Comunidades Impactadas pelo BID

A Rede de Comunidades Impactadas pelo BID está sendo construída a partir de processos de luta que têm um elemento comum bastante claro: a busca por justiça, reparação e não repetição de danos ambientais e sociais associados a projetos financiados pelo Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Embora o BID declare que os projetos que ele financia e apoia têm o desenvolvimento como seu objetivo, a atuação concreta do banco agravou nossas respectivas situações. Os projetos do BID que bateram às nossas portas não melhoraram as nossas vidas em momento algum. Ao contrário, pioraram as nossas condições de vida e trabalho, saúde, educação, lazer e transporte. Pior ainda, em alguns casos, o agravamento de nossas condições de vidas levou a um grande número de encarceramentos e mortes de jovens e a muitos casos de depressão nos idosos. A atual situação de empobrecimento das comunidades que compõem a nossa rede é uma prova contundente deste problema. Nossos direitos fundamentais, tais como saúde, habitação e ambiente saudável, foram violados. Exigimos justiça!

Para avançarmos na luta pela conquista de nossos objetivos, os laços que estamos criando em torno dos problemas e lutas comuns estão sendo fundamentais. Os vínculos de solidariedade e de luta tecidos por nossa rede renovam nossas esperanças e fortalecem as nossas vozes perante aqueles que, seduzidos pelo lucro, julgam ter o direito de destruir e encarcerar nossas vidas.

Toda comunidade tem o direito de ser livre para determinar seu presente e futuro em harmonia com a sociedade e com o seu ambiente. Sem o cumprimento desse direito ou, de outro modo, sem a nossa participação nas decisões que envolvem as nossas vidas, os erros do presente e do passado serão repetidos. Lutamos e continuaremos lutando para que jamais voltem a violar nossos direitos humanos. Defenderemos a continuidade de nossos modos de vida e do ambiente que nos cerca e sustenta.

Quem compõe a Rede de Comunidades Impactadas pelo BID?

Associação de Favelas de São José dos Campos
(Brasil)

A Associação de Favelas de São José dos Campos agrega comunidades e bairros populares do Vale do Paraíba na luta contra a remoção forçada e projetos de exclusão urbana no estado de São Paulo, Brasil.

No ano de 2003, a gentrificação urbana nos deu um duro golpe. A comunidade da Vila Nova Tatetuba foi violentamente removida por projeto financiado pelo BID (projeto IADB-R0273). Até hoje, as famílias afetadas seguem desamparadas pelo banco e pelo poder público.

Posteriormente, o BID seguiu financiando a miséria e a pobreza na cidade de São José dos Campos, com mais um financiamento de estruturação urbana (proyecto IADB-BR-L1160). Este novo projeto construiu uma passagem asfaltada, a Via Cambuí, que viabilizou o surgimento de vários condomínios que impermeabilizaram o solo. De tal maneira, houve uma expansão do número e do volume dos alagamentos do rio Cambuí, colocando em risco todos os bairros que estão no seu entorno, como Sapé, Corinthians, Nova Esperança e Cambuí.

Asopesca Tocopilla A.G.
(Chile)

Somos comunidades de pescadores tradicionais que historicamente vivemos e trabalhamos na região de Tocopilla em completa harmonia com o ambiente que nos sustenta.

Fomos informados em 2018 da intenção de investimento do BID em uma usina dessalinizadora que ameaça nossa região de sobrevivência econômica e cultural para levar água a projetos de mineração (projeto do BID Invest 12277-01). Durante anos sofremos com a falta de informação sobre o projeto e seus efeitos psicológicos em nossas famílias, na incerteza de nosso futuro. Ainda não sabemos como ou se o projeto será levado a frente, sem nosso consentimento e participação.

Movimiento Ríos Vivos de Colombia
(Colômbia)

Movimiento Ríos Vivos de Colombia, composto por comunidades camponesas, pescadoras e mineradoras ancestrais e artesanais, mulheres, jovens e crianças do rio Cauca, está localizada no departamento de Antioquia, Colômbia. Todos fomos afetados pelo projeto hidroelétrico Hidroituango (projeto IDBI-CO-L1226), uma mega central que pretende gerar 2.400 MW e que inundou as residências e as praias que eram fonte de subsistência de milhões de pessoas. Por causa da corrupção na Colômbia, gerou-se uma obra que não oferece garantias à população, que nos mantém em risco permanente, que desconectou e secou o rio, obstruindo-o com um muro de 225 metros de altura, que hoje sequer se garante possuir estabilidade ou não.

Além disso, com a seca do rio, Hidroituango matou milhares de espécies, principalmente os peixes que eram a fonte de sustento de grande parte da população.

Ríos Vivos é uma organização social de base de segundo nível organizativo que agrupa 15 associações dos diferentes municípios afetados.

O que a Rede de Comunidades Impactadas pelo BID quer?

Num primeiro momento, a nossa rede requer a reparação dos danos causados pelo BID a cada uma das comunidades aqui presentes. Queremos voltar a viver onde vivíamos. Mais que isso, queremos retomar o controle dos nossos territórios. Também exigimos reparação pelos danos que nos foram causados e garantias de que estes eventos não voltarão a acontecer conosco, com nossas irmãs e irmãos, nem tampouco com o nosso ambiente.

O mundo necessita de instituições realmente comprometidas com a preservação de nossos territórios e com toda a vida que depende da sua conservação. Qualquer investimento que destrói a natureza e vidas humanas não merece ser denominado como desenvolvimento. Sem a nossa participação, estes projetos continuarão a ser apenas investimentos destinados a expandir e concentrar privilégios.

Não descansaremos até que finalmente as comunidades que habitam as cidades, o campo e as florestas sejam tratadas com o respeito e a dignidade que merecem. Lutaremos para que as instituições públicas operem numa lógica que favoreça não apenas a melhora de nossas vidas, mas que nossas vidas sejam parte ativa da construção de sociedades e ambientes livres.

Queremos um mundo construído a partir das necessidades das comunidades, e não dos interesses de um sistema opressor!

Apoio: Internacional Accountability Projetc, Instituto Maíra, Sustentarse e Defensoria Pública de São Paulo.